Filhos dos deuses - RPG
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Lauren Giscard, "Ode à Alegria"

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Lauren Giscard, "Ode à Alegria" Empty Lauren Giscard, "Ode à Alegria"

Mensagem por Agatha de Bourgh Qua 30 Mar 2016, 10:50 pm

Lauren Giscard, "Ode à Alegria" 6f3pNKY




“Há amor entre o a luz do Sol e a flor,
Eis que seus raios resplandecem sobre suas pétalas graciosas;
Mas há no amor consequências perigosas,
Portanto ambos nunca deverão tocar-se, para que evitem futura dor.”


            - Que vão para o inferno esses oráculos! – O homem gritava aos céus, claramente embriagado. – Je t’aime, Fantine Giscard!

            Em seus braços, uma mulher ria, não tão abalada pelo álcool como seu companheiro. Sua beleza era estonteante: os cabelos longos e escuros caíam como cachoeira sobre seu corpo escultural, coberto por um vestido vermelho de manga longa. A saia rodada terminava abaixo de seus joelhos, e nos pés, scarpins pretos. Sua pose, embora descontraída, remetia claramente a uma digníssima dama.
            Os olhos turquesa da moça admiravam, brilhantes, a face de seu companheiro. Era um homem loiro, aparentemente de mesma faixa etária, dono das feições mais perfeitas que ela já havia vislumbrado. Ele usava um blazer preto acompanhado de jeans escuros e sapatos manualmente fabricados.

            Ambos saíram abraçados de um fino restaurante e partiram em caminhada pelas vielas daquela calma cidade. Em seus corações, o desejo de eternizar aquele momento. Fantine divertia-se a cada frase dita pelo amado; amava o fato de o homem ser tão naturalmente carismático, tanto sóbrio quanto ébrio. Mesmo que houvessem se conhecido há poucas semanas, a dama já podia sentir-se segura nos braços dele, e ambos já compartilhavam de intimidade como fossem conhecidos de anos atrás.

            - Você é a mulher mais linda que eu já vi em toda minha vida. – Os olhos brilhantes do homem tentavam fixar-se nas turquesas de sua amada, com certa dificuldade devido a sua embriaguez. – E olha, eu já vi muitas mulheres bonitas em minhas viagens.

            - Eu deveria me sentir lisonjeada ou enciumada com essa declaração? – Fantine sorria para o companheiro, e em seguida pôde sentir dois fortes braços envolvendo-a.

            - Lisonjeada. – O loiro sussurrou em seus ouvidos. – Nunca duvide das palavras de um bêbado. – Ele riu em baixo tom, pois mesmo em seu estado, sabia perfeitamente o que falava e o que sentia por ela. – Venha, meu apartamento está perto.

            Segurando as mãos da moça, ele guiou-a por mais algumas quadras até chegar no local onde ele estava temporariamente instalado. Era viajante naquela terra e não tinha casa fixa, mas por Fantine, havia decidido permanecer naquela cidade por mais tempo.
            Com as janelas abertas, o luar pôde testemunhar uma noite em que o amor, e somente o amor, reinou absoluto.


“[...] Mas há no amor consequências perigosas,[...]”

            Algumas semanas se passaram, e o casal desfrutava daquela tarde na casa campestre da irmã mais velha e do cunhado de Fantine, Amelie e Gerard. No momento em que os homens conversavam calmamente na sala de estar, puderam ouvir dois gritos histéricos vindo do quarto de hóspedes. Correndo até lá, viram as duas mulheres boquiabertas, uma desesperada, e a outra, a mais velha, profundamente animada.

            “Estou grávida” foi tudo o que o estrangeiro pôde distinguir na fala da amada. “Mais um”, ele poderia pensar, mas seu coração também enchia-se de felicidade, dando-se o egoísmo de poder se sentir um humano comum por alguns instantes. Estaria o amor finalmente cedendo a ele, depois de tantas tentativas falhas? Naquele momento, só pôde abraçar sua amada. Ele sequer se lembrava das premonições dos oráculos, ou desejava não se lembrar das mesmas.


~~*~~


            Os nove meses se passaram de maneira turbulenta. A gravidez era extremamente delicada, e Fantine tinha de aguentar os constantes problemas pelos quais passava. As visitas ao hospital se tornaram praticamente semanais, mas a jovem dama enfrentava todo o sofrimento com um sorriso nos olhos, pois aquela criança em seu ventre havia se tornado fruto do amor que nutria por seu amado. Criança esta que, mesmo sem ter mostrado ainda sua face ao mundo, era mimada e adorada por todos da cidade que conheciam os Giscard. “Ela é o sonho do meu amor”, Fantine dizia a todos que vinham visitá-la.

            Mas nem todo o amor, nem todos os sonhos e nem toda a adoração do mundo poderiam evitar o pesaroso final daquela história. Numa fria e hostil noite de inverno, o ventre de Fantine passou a sofrer violentas contrações. Levada às pressas à Santa Casa, sua mão era segurada com força pelo seu amado estrangeiro.

            - É uma situação de risco – O médico afirmou, balançando a cabeça em sinal de preocupação. – Poderemos fazer uma cesariana se quiserem, mas a vida da mãe está sustentada por um fio. Se preferirem, uma opção é a interrupção...

            A fala fúnebre do médico foi cortada por um desesperado grito de Fantine. “Não!”, exclamara. Ela teria aquela criança, não ousaria interromper uma vida que já era tão amada. A dama não pensava nas possíveis consequências, pois para ela, aquele anjo em seu ventre havia se tornado seu mundo.

            Quando Fantine foi levada à sala de cirurgia, o estrangeiro finalmente permitiu que sua mente trouxesse à lembrança do oráculo. Aquela era a futura dor, Fantine era sua flor. E aquela criança era o fruto de sua desobediência.
            Mas antes de culpar uma alma inocente, lembrou-se que foi ele quem desobedeceu ao oráculo, sendo ele próprio o mestre dos oráculos. Como fora tolo e imprudente, como fora... humano. Naquele momento ele percebeu que estava se permitindo ser o que não era. Ele não poderia se dar ao luxo de ser um humano comum, notou o resultado de tentar sê-lo: havia queimado sua amada flor. Nunca tivera sucesso no amor... esse era seu traço característico, e enganado fora quando pensou ser aquela finalmente sua chance.

            Passaram-se eternos momentos enquanto o estrangeiro refletia, em silêncio, acerca do que aconteceria. Pouco depois da segunda hora ter se completado, um som tenebroso ecoou pela sala ao lado de onde a cirurgia estava sendo realizada. Uma frequência lisa, reta, sem ondulações. O som da falta de batimentos cardíacos.

            Amelie derrubou-se aos prantos, tentando ser consolada por um Gerard que também estava em lágrimas. O estrangeiro apenas afundou-se em sua cadeira. Ele podia ter tentado curá-la, ele podia ajudá-la! Não era ele o conhecedor de toda a medicina? O fato é que ele havia desobedecido ao próprio presságio, havia sucumbido à própria profecia, de quem era patrono. E nem mesmo todo seu poder de cura livraria Fantine da consequência de sua obediência. Aquele era o destino que ele construíra.

            Incapaz de carregar o peso de seu destino como humano, aproveitou a ida de seus acompanhantes à sala cirúrgica e, numa explosão de luz, desapareceu, voltando de onde viera, voltando à sua origem inumana. Do lugar de onde sumira, uma carta em papel dourado repousava, sob uma elaborada coroa de louro, a folha símbolo de sua desventura no campo sentimental, e também o símbolo da vitória. Mais tarde Amelie e Gerard leriam aquele papel, onde toda a verdade era esclarecida detalhadamente; o oráculo, a gravidez de risco, a criança, o futuro. Das folhas de louro, decidiriam o nome da criança: Lauren.

           Lhes rogo que amem esta criança como a uma filha. É o sonho do amor de minha Fantine. Por causa dela, pude experimentar a felicidade por um efêmero momento. Ela é minha Ode à Alegria.”
Agatha de Bourgh
Agatha de Bourgh

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