Agatha de Bourgh - Abençoada pela Rainha
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Agatha de Bourgh - Abençoada pela Rainha
“Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale, mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.”
- Douglas Malloch
Agatha de Bourgh
Uma mera humana em meio a um mundo divino... A sensação de estar sempre fora da caixa. Não sou, em nada, parecida com meus companheiros semideuses. Não tenho sua força, sua agilidade ou resistência, mas mesmo assim, a Rainha dos deuses decidiu me escolher. Deixaria-me levar pelos sentimentos de exclusão que me cercam, ou batalharia para me mostrar digna deste novo mundo?
Nome: Agatha de Bourgh
Patrona: Hera
Idade atual: 18 anos
Olhos: Azul-acinzentados
Cabelos: Castanhos
Altura: 1.70m
Patrona: Hera
Idade atual: 18 anos
Olhos: Azul-acinzentados
Cabelos: Castanhos
Altura: 1.70m
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Última edição por Agatha de Bourgh em Dom 31 Jul 2016, 9:29 pm, editado 1 vez(es)
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Re: Agatha de Bourgh - Abençoada pela Rainha
Capítulo 01
“Amamos as nossas mães quase sem o saber e só nos damos conta da profundidade das raízes desse amor no momento da derradeira separação.”
- Guy Maupassant
Costumam dizer que debaixo do sol da Toscana, é praticamente impossível manter-se de mau humor. Ainda mais quando falamos da bela Florença, “o maior museu ao ar livre do mundo”. Com certeza, há de existir alguma magia ou até mistérios nas ruas por onde passearam da Vinci, Michelangelo e Alighieri, dentre tantos outros mestres.
No entanto, não estou aqui para lhe levar a um passeio turístico às minhas terras – na verdade, estou a praticamente um oceano de distância da mágica Toscana. O que quero dizer é que toda essa magia, esses ares positivos, eu pude senti-los todos, dentro de minha própria casa. Numa casa grande e aconchegante, um casal apaixonado e bem sucedido estabeleceu morada e também uma família.
Aliás, deixe-me apresentá-los. Frances, minha mãe, uma elegante dama, casada com Martini, meu pai, o homem mais dedicado que você um dia conhecerá. Juntos, tiveram a mim e a mais três crianças adoráveis, mas terrivelmente ativas: Marcello, Patti e David, os pequenos que sempre alegraram meus dias. Nós sempre vivemos confortavelmente e muito bem juntos, sempre me pareceu que nada poderia abalar aquela felicidade que pairava em nosso lar.
Entretanto tudo começou a mudar, se me recordo bem, por volta dos meus 12 anos de idade. Havia chego mais cedo do colégio, de modo que só encontrei mamãe em casa. Senti um aroma irresistível vindo da cozinha, Frances novamente estava fazendo mágica com as panelas.
Segui o cheiro até a cozinha e lá mamãe estava, toda suja de farinha. O rádio estava ligado, tocando Stevie Wonder, Isn’t she Lovely, e dona Frances dançava ao ritmo da música. Enquanto ela não percebia minha presença, observei-a com um sorriso no rosto. Mamãe sempre foi linda. Para uma mulher que passara há pouco dos 40 anos, eu posso te afirmar que minha mãe daria de 10 a 0 em muitas modelos por aí. Mas o que mais me admirava nela era sua jovialidade – lá estava ela, dançando e usando um fouet como microfone. Não pude conter a risada, e mamãe se virou para mim, surpresa.
- Mia principessa! – Minha mãe exclamou e me puxou para a dança. Nesse embalo, quase deixamos a torta queimar.
Parecia que passaríamos mais um dia perfeito, mas acabei me enganando. Enquanto, na mesa, conversávamos sobre meu dia, mamãe começou a parecer distante. Seu semblante começava a empalidecer e suas mãos tremiam. Perguntei-lhe se estava tudo bem, mas ela apenas sorriu.
- Isso tem acontecido há algum tempo, estou perfeitamente bem, mi amore, apenas preciso tomar algum ar fresco. – Ela se levantou e seguiria até o quintal de casa; no entanto, mamãe caiu desfalecida no piso do chão, assim que se soltou da cadeira.
Desesperada, corri até ela e vi que não respondia. Procurei pelo telefone mais perto e chamei por uma ambulância e em seguida, para meu pai.
- Mamãe... ! – Na linha do telefone, eu tentava falar em meio aos soluços. – Papa, aconteceu alguma coisa com mamãe! – O desespero me impedia de processar as informações, mas eu sentia que algo havia começado a desmoronar naquela tarde.
No entanto, não estou aqui para lhe levar a um passeio turístico às minhas terras – na verdade, estou a praticamente um oceano de distância da mágica Toscana. O que quero dizer é que toda essa magia, esses ares positivos, eu pude senti-los todos, dentro de minha própria casa. Numa casa grande e aconchegante, um casal apaixonado e bem sucedido estabeleceu morada e também uma família.
Aliás, deixe-me apresentá-los. Frances, minha mãe, uma elegante dama, casada com Martini, meu pai, o homem mais dedicado que você um dia conhecerá. Juntos, tiveram a mim e a mais três crianças adoráveis, mas terrivelmente ativas: Marcello, Patti e David, os pequenos que sempre alegraram meus dias. Nós sempre vivemos confortavelmente e muito bem juntos, sempre me pareceu que nada poderia abalar aquela felicidade que pairava em nosso lar.
Entretanto tudo começou a mudar, se me recordo bem, por volta dos meus 12 anos de idade. Havia chego mais cedo do colégio, de modo que só encontrei mamãe em casa. Senti um aroma irresistível vindo da cozinha, Frances novamente estava fazendo mágica com as panelas.
Segui o cheiro até a cozinha e lá mamãe estava, toda suja de farinha. O rádio estava ligado, tocando Stevie Wonder, Isn’t she Lovely, e dona Frances dançava ao ritmo da música. Enquanto ela não percebia minha presença, observei-a com um sorriso no rosto. Mamãe sempre foi linda. Para uma mulher que passara há pouco dos 40 anos, eu posso te afirmar que minha mãe daria de 10 a 0 em muitas modelos por aí. Mas o que mais me admirava nela era sua jovialidade – lá estava ela, dançando e usando um fouet como microfone. Não pude conter a risada, e mamãe se virou para mim, surpresa.
- Mia principessa! – Minha mãe exclamou e me puxou para a dança. Nesse embalo, quase deixamos a torta queimar.
Parecia que passaríamos mais um dia perfeito, mas acabei me enganando. Enquanto, na mesa, conversávamos sobre meu dia, mamãe começou a parecer distante. Seu semblante começava a empalidecer e suas mãos tremiam. Perguntei-lhe se estava tudo bem, mas ela apenas sorriu.
- Isso tem acontecido há algum tempo, estou perfeitamente bem, mi amore, apenas preciso tomar algum ar fresco. – Ela se levantou e seguiria até o quintal de casa; no entanto, mamãe caiu desfalecida no piso do chão, assim que se soltou da cadeira.
Desesperada, corri até ela e vi que não respondia. Procurei pelo telefone mais perto e chamei por uma ambulância e em seguida, para meu pai.
- Mamãe... ! – Na linha do telefone, eu tentava falar em meio aos soluços. – Papa, aconteceu alguma coisa com mamãe! – O desespero me impedia de processar as informações, mas eu sentia que algo havia começado a desmoronar naquela tarde.
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Re: Agatha de Bourgh - Abençoada pela Rainha
Capítulo 02
“Enquanto acreditarmos em nossos sonhos, nada será por acaso.”
- Henfil
Dois anos se passaram desde que perdi minha mãe. Acho que você pode imaginar o que uma criança de doze anos sente ao passar por uma fase dessas. Principalmente por tê-la visto desfalecer ao meu lado, ao meu alcance... era inevitável não me culpar, não pensar no que eu poderia ter feito para salvá-la e não fiz... Foram dias horríveis que passei, mas não sozinha.
Papai estava visivelmente arrasado, e tinha melhorado muito pouco nesses anos que se passaram. Sua barba e cabelo estavam agora, totalmente desgrenhados. Ele se culpava constantemente pela morte de mamãe, e agora vivia inteiramente para o trabalho e, principalmente, para os filhos. Nunca descontou sua tristeza em nós, ao passo que vivia para nos ver alegres.
Para ajudar a meu pai, eu havia decidido me privar do luto, também. Haviam, antes de mim, três crianças naquela casa que precisavam de muito mais amparo do que eu; Marcello e Patti, com 10 e 8 anos, e David, com apenas 04, eram muito novos para conhecer tão cedo o luto. Por isso, lutei contra meus próprios sentimentos para suprimi-los, e procurei alegrar, de alguma forma, aquelas três crianças que só mereciam receber amor e nada mais.
- Cheguei! – Exclamei assim que abri a porta, após chegar tarde do colégio, e em questão de segundos, três abraços vieram em minha direção. Meus irmãos gritavam meu nome, alegres, já querendo me puxar para suas brincadeiras. Peguei David no colo, enquanto os outros me seguiam para o interior de casa.
- Com toda essa comoção, eu percebi. Bem-vinda, minha Agatha. – Meu pai apareceu para me dar um beijo na testa. Embora não tão alegre quanto antes, ele ainda conseguia colocar um belo sorriso em seu rosto.
- Então, o que vão querer jantar hoje? – Perguntei, já indo para a cozinha. As crianças gritavam “Pizza!”, enquanto meu pai repetia a mesma pergunta de todos os dias:
- Você não tem nada para fazer? Trabalhos, lição de casa... nada?
- Eu faço isso depois. – Respondi, sorrindo. É claro que eu tinha, mas aquilo podia esperar. Meu pai apenas sorriu, compadecido.
E lá havia se passado mais uma noite em casa. Fiz o jantar, arrumei os cômodos, ajudei as crianças com seus deveres – meu pai era terrível com essas coisas -, e por fim, brincamos os cinco por alguns minutos. Depois de colocar meus pivetes para dormir e me certificar de que papai não precisava de mais nada, me tranquei em meu quarto, derramando meu corpo sobre a cama.
- Dio santo... – Murmurei, exausta. Olhei de relance para minha bolsa escolar, jogada ao lado da escrivaninha. – Bah, só quinze minutos de sono.. – Assim, fechei os olhos, caindo imediatamente no mundo dos sonhos.
O que era aquela voz que me chamava... ? Era doce, materna, mas imponente ao mesmo tempo. “Agatha...”, o doce timbre ecoava em minha mente, junto a uma presença poderosa que me induzia a despertar. Quando abri os olhos, não havia nada ao meu redor, a não ser as estrelas! Me sentia perdida; ao mesmo tempo que era impossível estar flutuando em meio aos astros da Via Láctea, aquela sensação era real demais!
Aquela presença que senti se tornou ainda mais forte quando, de repente, um par de olhos deslumbrantes se abriu em minha frente. Eram olhos femininos e marcantes, seu olhar penetrava minha alma, parecia observar e conhecer cada centímetro de mim! “Agatha...”, aqueles olhos me chamavam. Era um olhar afiado, mas carinhoso ao mesmo tempo, eu sentia grande poder fluir do brilho daquelas orbes. Foi então que aquela voz gloriosa começou a se pronunciar.
O que te falo não é com a maior das certezas... As palavras que Hera me proferiu naquele sonho entraram no mais profundo do meu coração, mas nunca consegui me recordar delas com precisão. É como se a deusa falasse diretamente com meu subconsciente, de modo que até mesmo minha mente jamais pudesse mudar aquelas palavras. As poucas coisas de que me lembro são da Rainha do Olimpo me convocando a ser sua devota, pois ela encontrara em mim o que há muito tempo procurava, algo que ela buscava em suas favoritas. As palavras me fugiram fácil, mas aquela sensação marcante de uma deusa te visitar num sonho... isso é difícil de esquecer.
Acordei, ofegante. Estava novamente em meu quarto, já rindo de mim mesma pensando que tudo aquilo havia sido um sonho esquisito. Quando ia voltar a me deitar, minha atenção foi desviada por algo brilhante, que reluzia ao lado de minha cama.
Curiosa, busquei-o com as mãos e acabei encontrando uma pena de pavão, longa e maravilhosa, que emanava um brilho verde e azul. Quando peguei a pena com as mãos, o cômodo inteiro se iluminou com sua luz. “Isso só pode ser loucura...”, pensei.
Papai estava visivelmente arrasado, e tinha melhorado muito pouco nesses anos que se passaram. Sua barba e cabelo estavam agora, totalmente desgrenhados. Ele se culpava constantemente pela morte de mamãe, e agora vivia inteiramente para o trabalho e, principalmente, para os filhos. Nunca descontou sua tristeza em nós, ao passo que vivia para nos ver alegres.
Para ajudar a meu pai, eu havia decidido me privar do luto, também. Haviam, antes de mim, três crianças naquela casa que precisavam de muito mais amparo do que eu; Marcello e Patti, com 10 e 8 anos, e David, com apenas 04, eram muito novos para conhecer tão cedo o luto. Por isso, lutei contra meus próprios sentimentos para suprimi-los, e procurei alegrar, de alguma forma, aquelas três crianças que só mereciam receber amor e nada mais.
- Cheguei! – Exclamei assim que abri a porta, após chegar tarde do colégio, e em questão de segundos, três abraços vieram em minha direção. Meus irmãos gritavam meu nome, alegres, já querendo me puxar para suas brincadeiras. Peguei David no colo, enquanto os outros me seguiam para o interior de casa.
- Com toda essa comoção, eu percebi. Bem-vinda, minha Agatha. – Meu pai apareceu para me dar um beijo na testa. Embora não tão alegre quanto antes, ele ainda conseguia colocar um belo sorriso em seu rosto.
- Então, o que vão querer jantar hoje? – Perguntei, já indo para a cozinha. As crianças gritavam “Pizza!”, enquanto meu pai repetia a mesma pergunta de todos os dias:
- Você não tem nada para fazer? Trabalhos, lição de casa... nada?
- Eu faço isso depois. – Respondi, sorrindo. É claro que eu tinha, mas aquilo podia esperar. Meu pai apenas sorriu, compadecido.
E lá havia se passado mais uma noite em casa. Fiz o jantar, arrumei os cômodos, ajudei as crianças com seus deveres – meu pai era terrível com essas coisas -, e por fim, brincamos os cinco por alguns minutos. Depois de colocar meus pivetes para dormir e me certificar de que papai não precisava de mais nada, me tranquei em meu quarto, derramando meu corpo sobre a cama.
- Dio santo... – Murmurei, exausta. Olhei de relance para minha bolsa escolar, jogada ao lado da escrivaninha. – Bah, só quinze minutos de sono.. – Assim, fechei os olhos, caindo imediatamente no mundo dos sonhos.
O que era aquela voz que me chamava... ? Era doce, materna, mas imponente ao mesmo tempo. “Agatha...”, o doce timbre ecoava em minha mente, junto a uma presença poderosa que me induzia a despertar. Quando abri os olhos, não havia nada ao meu redor, a não ser as estrelas! Me sentia perdida; ao mesmo tempo que era impossível estar flutuando em meio aos astros da Via Láctea, aquela sensação era real demais!
Aquela presença que senti se tornou ainda mais forte quando, de repente, um par de olhos deslumbrantes se abriu em minha frente. Eram olhos femininos e marcantes, seu olhar penetrava minha alma, parecia observar e conhecer cada centímetro de mim! “Agatha...”, aqueles olhos me chamavam. Era um olhar afiado, mas carinhoso ao mesmo tempo, eu sentia grande poder fluir do brilho daquelas orbes. Foi então que aquela voz gloriosa começou a se pronunciar.
O que te falo não é com a maior das certezas... As palavras que Hera me proferiu naquele sonho entraram no mais profundo do meu coração, mas nunca consegui me recordar delas com precisão. É como se a deusa falasse diretamente com meu subconsciente, de modo que até mesmo minha mente jamais pudesse mudar aquelas palavras. As poucas coisas de que me lembro são da Rainha do Olimpo me convocando a ser sua devota, pois ela encontrara em mim o que há muito tempo procurava, algo que ela buscava em suas favoritas. As palavras me fugiram fácil, mas aquela sensação marcante de uma deusa te visitar num sonho... isso é difícil de esquecer.
Acordei, ofegante. Estava novamente em meu quarto, já rindo de mim mesma pensando que tudo aquilo havia sido um sonho esquisito. Quando ia voltar a me deitar, minha atenção foi desviada por algo brilhante, que reluzia ao lado de minha cama.
Curiosa, busquei-o com as mãos e acabei encontrando uma pena de pavão, longa e maravilhosa, que emanava um brilho verde e azul. Quando peguei a pena com as mãos, o cômodo inteiro se iluminou com sua luz. “Isso só pode ser loucura...”, pensei.
Última edição por Agatha de Bourgh em Dom 31 Jul 2016, 9:34 pm, editado 1 vez(es)
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Re: Agatha de Bourgh - Abençoada pela Rainha
Capítulo 03
O mais longuinho, que chateza.
“A vida é uma aventura ousada ou, então, não é nada.”
- Helen Keller
Depois daquela noite bizarra, tudo me lembrava das palavras da suposta “Hera”. No colégio, com meus amigos ou até nos afazeres de casa, eu nunca havia me comportado de maneira tão distraída, visto que aquela voz forte ecoava em meu coração em todos os momentos. Meus dias se baseavam em tentar abafar aquela visão, fazer com que minha mente acreditasse que tudo havia sido parte de um sonho dos mais absurdos.
No entanto, aquela santa pena de pavão estava presente para me fazer acreditar que aquilo fora, de fato, real. Como diabos aquele objeto acabou caindo na minha cama? Todos as noites, quando estava a sós em meu quarto, eu tirava a pena de dentro de uma caixa – onde eu havia guardado para que ninguém mais a visse – e a analisava, observava todos os seus detalhes, como se fosse conseguir decifrá-la. Mas qualquer tentativa acabava em vão; lá permanecia a pena, indecifrável, irradiando aquela luz misteriosa. Junto dela, a voz da mulher que nunca saía de minha mente. Eu já estava começando a achar que estava enlouquecendo de vez.
Mas o mais bizarro ocorreu uma semana depois. Era um sábado, estava com papai e meus irmãos em casa, e perto do horário de almoço a campainha tocou. Quando fui atender a porta, a imagem não podia ser mais cômica: um senhor baixinho e barbudo, vestindo um terno azul chamativo, com direito a um chapéu de mesma cor. Nas mãos, ele segurava uma mini-bengala dourada. Um típico mini-mafioso.
- ... Pois não, senhor? – Eu perguntei, hesitante. Não sabia se ria da imagem, ou me assustava com a estranheza daquele senhor.
- Você é Agatha de Bourgh? Preciso falar com Agatha de Bourgh. – O senhorzinho respondeu, com a voz um pouco rouca. Ele aparentava ter já uns 40 anos, embora sua estatura fosse de 10.
Quando fui responder, senti uma mão forte em meu ombro. Meu pai aparecera, com o semblante desconfiado. – No que posso ajudar?
- Você não me parece alguém que se chamaria Agatha. – O homem respondeu, sarcástico. Como viu que nenhum de nós dois o respondíamos, ele continuou impaciente: - Okay, meu nome é Phil, e eu tenho um convite para Agatha. – Ele mostrou nas mãos uma carta com um selo de cera, como nos antigos tempos. No centro do selo havia uma pena de pavão. Estremeci. – Que tal entrarmos para uma xícara de chá? Onde está a receptividade calorosa dos italianos? Eu prometo que serei breve.
Eu e papai nos entreolhamos, confusos. Por fim, decidimos deixá-lo entrar. Papai o levou até a sala de estar, enquanto eu fui à cozinha preparar um chá para o Sr. Pedinte. As crianças, curiosas com o visitante excêntrico, se reuniram com os homens na sala. Phil os analisou da cabeça aos pés, e vendo sua idade, declarou:
- Vocês não são a Agatha. – Cruzou os braços, bufando.
- Eu sou Agatha, signore Phil... lip? – Falei, me aproximando com a xícara de chá. O homem balançou as pernas que eram curtas demais para encostarem ao chão, e recebeu a xícara felizmente.
- Philemon. Bom, vamos ao negócio. Preciso falar com Martini, quem é Martini? - Phil perguntou, olhando primeiro para os meninos. As crianças apontaram para meu pai que, sentado numa poltrona, ainda olhava suspeito para o baixinho.
- Pode falar. – Papai falou.
- Bem, estou aqui para te dizer que sua filha, Agatha, foi convidada para passar os verões num Colégio de alta classe em que trabalho. – Ele falava como um mafioso, batendo os dedos das mãos. – É um convite e tanto, digamos que uma de nossas, erm, superiores demonstrou interesse nos dotes acadêmicos de sua filha, e está oferecendo uma bolsa para que Agatha venha estudar conosco. Já digo que, como se trata de um colégio muito rígido, as visitas familiares não são possíveis, embora eu acho que já seria muito difícil para vocês a visitarem já que nosso prédio se encontra nos Estados Unidos e...
- Ei, ei, aspettare! – Papai pediu para Phil esperar, não entendendo nada. – Você chega em minha casa, dizendo que tem uma oferta para minha filha de quatorze anos, mas que precisa levá-la para o outro lado do oceano e eu simplesmente não posso visitá-la? É isso mesmo que entendi?!
Phil ponderou por alguns segundos, e respondeu, seco: - É isso mesmo, Sr. Martini. Pelos deuses, o senhor resumiu bem o que eu queria dizer.
- Muito bem. – Papai riu com ironia e se levantou, já se encaminhando à porta. – Sr. Philemon me desculpe, mas o senhor é louco. Se não se incomoda, gostaria que me acompanhasse até o lado de fora...
Eu ainda olhava estática para nosso pequeno convidado. Tinha pegado a carta que ele trouxera e analisava o selo de pavão. Aquilo só poderia ser uma confirmação do que eu sonhara! E se, realmente tudo aquilo fosse verdade? E se houvesse uma deusa em algum lugar que realmente estava me chamando? Algo em mim queimava pelo desejo de ir ao encontro desse tal “colégio”.
Assim que Phil estava se levantando, cabisbaixo, eu mesma me levantei e exclamei para ele e meu pai:
- Aspettare!!
- Olha, eu preciso, antes de tudo, saber o que vocês querem dizer com essa palavra. – Phil declarou, irônico.
- Eu... Eu gostaria de saber mais sobre esse colégio! Como funciona, como vou ficar lá... estou interessada!
Papai me olhou, surpreso e confuso ao mesmo tempo, enquanto Phil abriu um sorriso de orelha a orelha. Ele bateu com a bengala dourada no chão, e se jogou de volta ao sofá.
- Pois bem! – Ele exclamou, enquanto papai tornava a se sentar, sobrancelhas arqueadas. Phil nos explicou tudo, como eu iria, onde me acomodaria, como funcionava a bolsa, e até por que a bolsa era apenas para os verões. “É como funciona nosso sistema. Acreditamos que... erm... os alunos se desempenham melhor... nos... verões?”, ele titubeou, mas de alguma forma acabou convencendo ao meu pai. Uma bolsa gratuita, numa escola que, segundo a carta, era bastante renomada, acabou enchendo papai de orgulho. Por fim, ficou combinado que eu teria algumas horas para arrumar minhas coisas e Phil voltaria me buscar no fim da tarde.
Quando nos despedimos do homenzinho e fechamos a porta, eu e meu pai nos entreolhamos: - Uma loucura, não é? – Ele perguntou.
- Você não imagina o quanto. – Respondi.
Phil havia vindo me buscar. Ele veio em um Horch marrom muito bem conservado, dirigido por alguém que eu não conseguia distinguir. Com um aperto no coração, abracei meus irmãos com força, e prometi que aquele verão passaria logo. “Quando eu voltar, farei a maior pizza que vocês verão”, a promessa fez com que as lágrimas de meus pequeninos dessem lugar a pequenos sorrisos. Me virei para meu pai, e ele tentava conter o olhar marejado. Me joguei em seu abraço.
- Mia principessa... – Ele falava, com a voz embargada. Seus braços afagavam meus cabelos castanhos e abraçavam meu tronco. – Vou sentir sua falta. Quem vai cozinhar para nós?
- Será rápido, papai. – Eu o olhei nos olhos e sorri. – Também sentirei sua falta.
- Com licença. – Phil interrompeu nosso momento emocional. Até achei bom, porque senão logo eu começaria a chorar. – Meus queridos, quebra meu coração interromper esse momento lindo de vocês, mas... – Ele tocou com a bengala no carro, me apressando.
Peguei minha mala, onde havia colocado algumas mudas de roupa – e também, é claro, a enigmática pena de pavão – e entrei no banco de trás do carro, seguida por Phil. Com um último aceno, saímos em direção ao colégio, sabe-se lá como.
Phil logo começou a me explicar sobre o colégio. Como eu teria meu próprio quarto, como deveria me comportar, como seriam as aulas – Arco e flecha? Combate com armas brancas? Oi? -, entre outras coisas. Sua voz tentava ser autoritária, mas com aquele tamanho, Phil falhava completamente em parecer temível.
Não importa o que ele dizia, eu sabia que aquele não seria um colégio comum, então logo o interrompi:
- Certo, agora que estamos a sós, - Falei, ignorando o motorista que ainda não consegui reconhecer. – pode me falar a verdade. Isso tudo tem a ver com o sonho que tive semana passada, não é?
Phil hesitou, mas concluiu: - Sim, criança. Graças aos deuses você parece não ser tão bobinha. A verdade é que Hera realmente te chamou. Hera, a deusa. A rainha do Olimpo, a esposa de Zeus. A toda poderosa, a bela senhora, tudo aquilo que ela gosta.
- Espera aí. Está falando dos deuses gregos? E que uma deles decidiu “me escolher”?
- Sim, te escolheu a dedo. Hera viu alguma coisa em você, criança. Quem iria pensar, que ela escolheria logo uma menina como você? Não me leve a mal, mas você é inteiramente... normal. Quero dizer, não tem sangue divino nenhum em você. Quero dizer...
- Eu entendi. – Sangue divino... eu estava é feliz por ser normal e não fazer parte dessa loucura!
- Enfim, estou te levando para um lugar chamado Acampamento Meio-Sangue, criança. É um lugar onde ficam os semideuses, os filhos dos deuses do Olimpo. Lá eles ficam seguros de qualquer ameaça, podem treinar suas habilidades... enquanto nós, sátiros, temos que tomar conta deles. E imagina com quem eu caí? Contigo, criança.
- Calma... sátiros?! – Phil me olhou como se fosse a coisa mais óbvia: tirou seus sapatos e me mostrou um par de patas de bode. Retirou o seu chapéu azul, revelando um par de chifres em meio ao cabelo emaranhado. – Uau...
- Pois é. Agora você é uma de nós. Quer dizer, não totalmente, mas é. Você será uma devota de Hera, terá os poderes de uma, e vai receber o mesmo treinamento que os semideuses, mas claro... você terá suas limitações afinal, és uma humana no meio de literalmente semideuses.
Não sabia como me sentir com isso, se aliviada por ser normal, ou preocupada por ser normal. De qualquer modo, seria uma aventura e tanto.
- Phil...
- Sim, criança?
- Estamos na Itália... Indo para os EUA... de carro. – Ele soltou um riso.
- Bem vinda ao mundo dos semideuses, criança.
No entanto, aquela santa pena de pavão estava presente para me fazer acreditar que aquilo fora, de fato, real. Como diabos aquele objeto acabou caindo na minha cama? Todos as noites, quando estava a sós em meu quarto, eu tirava a pena de dentro de uma caixa – onde eu havia guardado para que ninguém mais a visse – e a analisava, observava todos os seus detalhes, como se fosse conseguir decifrá-la. Mas qualquer tentativa acabava em vão; lá permanecia a pena, indecifrável, irradiando aquela luz misteriosa. Junto dela, a voz da mulher que nunca saía de minha mente. Eu já estava começando a achar que estava enlouquecendo de vez.
Mas o mais bizarro ocorreu uma semana depois. Era um sábado, estava com papai e meus irmãos em casa, e perto do horário de almoço a campainha tocou. Quando fui atender a porta, a imagem não podia ser mais cômica: um senhor baixinho e barbudo, vestindo um terno azul chamativo, com direito a um chapéu de mesma cor. Nas mãos, ele segurava uma mini-bengala dourada. Um típico mini-mafioso.
- ... Pois não, senhor? – Eu perguntei, hesitante. Não sabia se ria da imagem, ou me assustava com a estranheza daquele senhor.
- Você é Agatha de Bourgh? Preciso falar com Agatha de Bourgh. – O senhorzinho respondeu, com a voz um pouco rouca. Ele aparentava ter já uns 40 anos, embora sua estatura fosse de 10.
Quando fui responder, senti uma mão forte em meu ombro. Meu pai aparecera, com o semblante desconfiado. – No que posso ajudar?
- Você não me parece alguém que se chamaria Agatha. – O homem respondeu, sarcástico. Como viu que nenhum de nós dois o respondíamos, ele continuou impaciente: - Okay, meu nome é Phil, e eu tenho um convite para Agatha. – Ele mostrou nas mãos uma carta com um selo de cera, como nos antigos tempos. No centro do selo havia uma pena de pavão. Estremeci. – Que tal entrarmos para uma xícara de chá? Onde está a receptividade calorosa dos italianos? Eu prometo que serei breve.
Eu e papai nos entreolhamos, confusos. Por fim, decidimos deixá-lo entrar. Papai o levou até a sala de estar, enquanto eu fui à cozinha preparar um chá para o Sr. Pedinte. As crianças, curiosas com o visitante excêntrico, se reuniram com os homens na sala. Phil os analisou da cabeça aos pés, e vendo sua idade, declarou:
- Vocês não são a Agatha. – Cruzou os braços, bufando.
- Eu sou Agatha, signore Phil... lip? – Falei, me aproximando com a xícara de chá. O homem balançou as pernas que eram curtas demais para encostarem ao chão, e recebeu a xícara felizmente.
- Philemon. Bom, vamos ao negócio. Preciso falar com Martini, quem é Martini? - Phil perguntou, olhando primeiro para os meninos. As crianças apontaram para meu pai que, sentado numa poltrona, ainda olhava suspeito para o baixinho.
- Pode falar. – Papai falou.
- Bem, estou aqui para te dizer que sua filha, Agatha, foi convidada para passar os verões num Colégio de alta classe em que trabalho. – Ele falava como um mafioso, batendo os dedos das mãos. – É um convite e tanto, digamos que uma de nossas, erm, superiores demonstrou interesse nos dotes acadêmicos de sua filha, e está oferecendo uma bolsa para que Agatha venha estudar conosco. Já digo que, como se trata de um colégio muito rígido, as visitas familiares não são possíveis, embora eu acho que já seria muito difícil para vocês a visitarem já que nosso prédio se encontra nos Estados Unidos e...
- Ei, ei, aspettare! – Papai pediu para Phil esperar, não entendendo nada. – Você chega em minha casa, dizendo que tem uma oferta para minha filha de quatorze anos, mas que precisa levá-la para o outro lado do oceano e eu simplesmente não posso visitá-la? É isso mesmo que entendi?!
Phil ponderou por alguns segundos, e respondeu, seco: - É isso mesmo, Sr. Martini. Pelos deuses, o senhor resumiu bem o que eu queria dizer.
- Muito bem. – Papai riu com ironia e se levantou, já se encaminhando à porta. – Sr. Philemon me desculpe, mas o senhor é louco. Se não se incomoda, gostaria que me acompanhasse até o lado de fora...
Eu ainda olhava estática para nosso pequeno convidado. Tinha pegado a carta que ele trouxera e analisava o selo de pavão. Aquilo só poderia ser uma confirmação do que eu sonhara! E se, realmente tudo aquilo fosse verdade? E se houvesse uma deusa em algum lugar que realmente estava me chamando? Algo em mim queimava pelo desejo de ir ao encontro desse tal “colégio”.
Assim que Phil estava se levantando, cabisbaixo, eu mesma me levantei e exclamei para ele e meu pai:
- Aspettare!!
- Olha, eu preciso, antes de tudo, saber o que vocês querem dizer com essa palavra. – Phil declarou, irônico.
- Eu... Eu gostaria de saber mais sobre esse colégio! Como funciona, como vou ficar lá... estou interessada!
Papai me olhou, surpreso e confuso ao mesmo tempo, enquanto Phil abriu um sorriso de orelha a orelha. Ele bateu com a bengala dourada no chão, e se jogou de volta ao sofá.
- Pois bem! – Ele exclamou, enquanto papai tornava a se sentar, sobrancelhas arqueadas. Phil nos explicou tudo, como eu iria, onde me acomodaria, como funcionava a bolsa, e até por que a bolsa era apenas para os verões. “É como funciona nosso sistema. Acreditamos que... erm... os alunos se desempenham melhor... nos... verões?”, ele titubeou, mas de alguma forma acabou convencendo ao meu pai. Uma bolsa gratuita, numa escola que, segundo a carta, era bastante renomada, acabou enchendo papai de orgulho. Por fim, ficou combinado que eu teria algumas horas para arrumar minhas coisas e Phil voltaria me buscar no fim da tarde.
Quando nos despedimos do homenzinho e fechamos a porta, eu e meu pai nos entreolhamos: - Uma loucura, não é? – Ele perguntou.
- Você não imagina o quanto. – Respondi.
Phil havia vindo me buscar. Ele veio em um Horch marrom muito bem conservado, dirigido por alguém que eu não conseguia distinguir. Com um aperto no coração, abracei meus irmãos com força, e prometi que aquele verão passaria logo. “Quando eu voltar, farei a maior pizza que vocês verão”, a promessa fez com que as lágrimas de meus pequeninos dessem lugar a pequenos sorrisos. Me virei para meu pai, e ele tentava conter o olhar marejado. Me joguei em seu abraço.
- Mia principessa... – Ele falava, com a voz embargada. Seus braços afagavam meus cabelos castanhos e abraçavam meu tronco. – Vou sentir sua falta. Quem vai cozinhar para nós?
- Será rápido, papai. – Eu o olhei nos olhos e sorri. – Também sentirei sua falta.
- Com licença. – Phil interrompeu nosso momento emocional. Até achei bom, porque senão logo eu começaria a chorar. – Meus queridos, quebra meu coração interromper esse momento lindo de vocês, mas... – Ele tocou com a bengala no carro, me apressando.
Peguei minha mala, onde havia colocado algumas mudas de roupa – e também, é claro, a enigmática pena de pavão – e entrei no banco de trás do carro, seguida por Phil. Com um último aceno, saímos em direção ao colégio, sabe-se lá como.
Phil logo começou a me explicar sobre o colégio. Como eu teria meu próprio quarto, como deveria me comportar, como seriam as aulas – Arco e flecha? Combate com armas brancas? Oi? -, entre outras coisas. Sua voz tentava ser autoritária, mas com aquele tamanho, Phil falhava completamente em parecer temível.
Não importa o que ele dizia, eu sabia que aquele não seria um colégio comum, então logo o interrompi:
- Certo, agora que estamos a sós, - Falei, ignorando o motorista que ainda não consegui reconhecer. – pode me falar a verdade. Isso tudo tem a ver com o sonho que tive semana passada, não é?
Phil hesitou, mas concluiu: - Sim, criança. Graças aos deuses você parece não ser tão bobinha. A verdade é que Hera realmente te chamou. Hera, a deusa. A rainha do Olimpo, a esposa de Zeus. A toda poderosa, a bela senhora, tudo aquilo que ela gosta.
- Espera aí. Está falando dos deuses gregos? E que uma deles decidiu “me escolher”?
- Sim, te escolheu a dedo. Hera viu alguma coisa em você, criança. Quem iria pensar, que ela escolheria logo uma menina como você? Não me leve a mal, mas você é inteiramente... normal. Quero dizer, não tem sangue divino nenhum em você. Quero dizer...
- Eu entendi. – Sangue divino... eu estava é feliz por ser normal e não fazer parte dessa loucura!
- Enfim, estou te levando para um lugar chamado Acampamento Meio-Sangue, criança. É um lugar onde ficam os semideuses, os filhos dos deuses do Olimpo. Lá eles ficam seguros de qualquer ameaça, podem treinar suas habilidades... enquanto nós, sátiros, temos que tomar conta deles. E imagina com quem eu caí? Contigo, criança.
- Calma... sátiros?! – Phil me olhou como se fosse a coisa mais óbvia: tirou seus sapatos e me mostrou um par de patas de bode. Retirou o seu chapéu azul, revelando um par de chifres em meio ao cabelo emaranhado. – Uau...
- Pois é. Agora você é uma de nós. Quer dizer, não totalmente, mas é. Você será uma devota de Hera, terá os poderes de uma, e vai receber o mesmo treinamento que os semideuses, mas claro... você terá suas limitações afinal, és uma humana no meio de literalmente semideuses.
Não sabia como me sentir com isso, se aliviada por ser normal, ou preocupada por ser normal. De qualquer modo, seria uma aventura e tanto.
- Phil...
- Sim, criança?
- Estamos na Itália... Indo para os EUA... de carro. – Ele soltou um riso.
- Bem vinda ao mundo dos semideuses, criança.
Última edição por Agatha de Bourgh em Dom 31 Jul 2016, 9:35 pm, editado 1 vez(es)
Agatha de Bourgh- Idade : 26
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Re: Agatha de Bourgh - Abençoada pela Rainha
Capítulo 04
“Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela.”
- Paulo Coelho
Eu sequer vi o tempo passar dentro daquele carro – o assento era muito confortável para negar-lhe um cochilo. Quando me dei conta, já estávamos em plena Long Island!
- Como você dorme. – Phil me olhou de soslaio, com a cara séria. – Desça do carro. Estamos há poucos metros do Acampamento, vamos andando pelo resto do caminho. E tire sua pena da mala, isso lá são modos de se tratar um objeto divino?
Um pouco contrariada, peguei minhas coisas e desci do carro assim que ele parou. Quando Phil desceu e fechou a porta, o veículo deu um arranque e, em poucos segundos, eu não conseguia enxergá-lo mais. Phil me puxou mata adentro, disse que teríamos de subir a Colina Meio-Sangue. Sem muitas opções, o segui.
Poucos metros uma ova! Para mim, aquele trajeto foi longo e cansativo – nenhum leigo sobe uma colina inteira e termina tão bem quanto antes. Só sei que, ao fim, estávamos de frente a um grande portal grego. “Acampamento Meio-Sangue”, estava escrito sobre as colunas.
- Bom, criança. – Phil concluiu, com ares satisfeitos, levando os braços à cintura. – Chegamos. Venha, tenho que te levar até Quíron. – Antes que eu pudesse perguntar quem era Quíron, o sátiro saiu, saltitando em minha frente. A visão era cômica demais para mim, mas segurei o riso e o segui acampamento adentro.
Phil me levou até a Casa Grande, onde Quíron me recebeu de braços abertos assim que viu a pena de pavão em minhas mãos. Ao seu lado, o famigerado Sr. D veio, e também me deu as boas vindas. Pegou a pena em suas mãos e analisou-a.
- Faz tempo que a mulher lá em cima não escolhe um protegido. – Ele considerou, enquanto bebia sua lata de Coca-Cola. – Venha, tenho um presente para você.
Entreolhei-me com Phil e segui o diretor até o interior da casa. Sr. D retirou de um dos armários uma pequena caixa toda ornamentada, prateada com algumas pedras cravejadas. Ele abriu o pequeno porta-joias em minha frente: em seu interior estava um belo anel de ouro pálido. Era rústico, como que feito há séculos atrás, mas ainda tinha um charme radiante.
- Todas as devotas de Hera utilizam um anel desse. – Sr. D me explicou. – Esse é o famoso “anel da castidade”.
Como me mostrei confusa, Quíron continuou: - É a concretização do voto que você fez com Hera. Como ela é a deusa do casamento, não iria querer que suas protegidas saiam por aí tendo casos com qualquer um. Ao usar esse anel, você poderá namorar ou se relacionar com outras pessoas, mas só está permitida a se deitar com alguém depois do matrimônio.
Eu nunca havia realmente considerado o contrário, então aceitei a condição. Peguei o anel do porta-joias e o coloquei em meu anelar esquerdo. Sr. D me fez prometer que não quebraria o pacto – Hera não costuma ser muito boazinha quando se depara com traições.
- Quíron – o diretor chamou seu companheiro. – Mostre o Acampamento para a garota. Phil, vá junto, não quero mais companhia. – E ainda bebendo, se trancou em uma das salas da Casa Grande.
- Venha, criança. – Quíron me guiou pelo caminho, enquanto Phil vinha trotando junto. Me mostrou a arena e o arsenal, os campos de morango, o anfiteatro e o pavilhão, entre outros lugares. Por todo lugar, havia jovens semideuses e sátiros em seus afazeres. Era algo completamente novo e diferente de tudo o que eu já havia visto, mas completamente estimulante.
Por fim, os dois me levaram aos chalés – onde os semideuses moravam, cada um de acordo com seu pai divino. Phil, muito altivo, me dizia a quem pertencia cada chalé. De último, eles me guiaram até o segundo maior chalé presente, o número 2.
- É aqui onde ficará. – Phil parecia orgulhoso. Chalé era pouco para aquele lugar. Grande, todo de mármore branco, com colinas delicadas e decoradas com flores e romãzeiras. Nas paredes, pavões em alto relevo estavam esculpidos. E por último, uma enorme porta púrpura ditava toda a elegância daquela que seria minha nova casa.
- Por muito tempo foi apenas um chalé honorário. – Quíron me explicou. – Por isso, ele não era muito habitável. Nós fizemos algumas mudanças para que você pudesse morar nele.
- Como colocar uma cama decente. – Phil se intrometeu – Fique sabendo que ajudei na decoração.
- Muito obrigada, Phil. – Disse, irônica mas contente com o carinho.
Quíron me avisou sobre alguns últimos detalhes e me deixou a sós com o sátiro. Já era cair da noite, então muitos semideuses se dirigiam aos seus chalés. Phil também me deixou logo depois, falando que voltaria em algum tempo pra me levar ao jantar.
Quando ele saiu, me vi sozinha em frente àquele chalé. Como se minha presença fosse uma completa surpresa, eu percebia que vários olhares dos semideuses me analisavam, talvez se perguntando quem eu era ou o que fazia debaixo do chalé de Hera. Tudo isso me deixava um pouco desconfortável, por isso corri para dentro do chalé.
O interior do chalé era deslumbrante. “Phil tem bom gosto...”, brinquei. Só havia uma cama, bastante grande, e outras mobílias igualmente confortáveis e até luxuosas. No centro do chalé, havia uma estátua em tamanho real de Hera. “Cara, que linda.”, pensei. Para uma mulher que sentia inveja de Afrodite, Hera também era muito dotada de beleza. Uma beleza madura, de mulher formada e imponente, uma beleza de mulher correta. Admirei-a por isso. Como o interior era muito frio – bendito mármore –, fogo tremelitava ao redor de todo o pedestal da estátua. Era um lugar lindo, confortável e seguro, mas para quem havia crescido numa casa agitada com três crianças, também era bastante frio e solitário.
O resto do dia resumiu-se em tomar um banho e trocar de roupa, e logo após ir com Phil até o Pavilhão. Estranhei completamente ter de me sentar sozinha na mesa de Hera, eu sequer me enturmaria daquele jeito. Era muito desconfortável o jeito como os demais semideuses me olhavam, dos pés à cabeça, alguns com curiosidade e outros com puro preconceito. No pavilhão, fui apresentada por Quíron como nova integrante do Acampamento.
Depois do jantar eu já estava cansada, eram tantas coisas novas que minha mente estava esgotada! Haveria uma confraternização no Anfiteatro, mas preferi que Phil me levasse de volta ao chalé, precisava de umas boas horas de sono.
- Amanhã o dia será cheio, pequena Agatha. – Phil me disse ao me dar boa-noite, com gentileza.
- Como você dorme. – Phil me olhou de soslaio, com a cara séria. – Desça do carro. Estamos há poucos metros do Acampamento, vamos andando pelo resto do caminho. E tire sua pena da mala, isso lá são modos de se tratar um objeto divino?
Um pouco contrariada, peguei minhas coisas e desci do carro assim que ele parou. Quando Phil desceu e fechou a porta, o veículo deu um arranque e, em poucos segundos, eu não conseguia enxergá-lo mais. Phil me puxou mata adentro, disse que teríamos de subir a Colina Meio-Sangue. Sem muitas opções, o segui.
Poucos metros uma ova! Para mim, aquele trajeto foi longo e cansativo – nenhum leigo sobe uma colina inteira e termina tão bem quanto antes. Só sei que, ao fim, estávamos de frente a um grande portal grego. “Acampamento Meio-Sangue”, estava escrito sobre as colunas.
- Bom, criança. – Phil concluiu, com ares satisfeitos, levando os braços à cintura. – Chegamos. Venha, tenho que te levar até Quíron. – Antes que eu pudesse perguntar quem era Quíron, o sátiro saiu, saltitando em minha frente. A visão era cômica demais para mim, mas segurei o riso e o segui acampamento adentro.
Phil me levou até a Casa Grande, onde Quíron me recebeu de braços abertos assim que viu a pena de pavão em minhas mãos. Ao seu lado, o famigerado Sr. D veio, e também me deu as boas vindas. Pegou a pena em suas mãos e analisou-a.
- Faz tempo que a mulher lá em cima não escolhe um protegido. – Ele considerou, enquanto bebia sua lata de Coca-Cola. – Venha, tenho um presente para você.
Entreolhei-me com Phil e segui o diretor até o interior da casa. Sr. D retirou de um dos armários uma pequena caixa toda ornamentada, prateada com algumas pedras cravejadas. Ele abriu o pequeno porta-joias em minha frente: em seu interior estava um belo anel de ouro pálido. Era rústico, como que feito há séculos atrás, mas ainda tinha um charme radiante.
- Todas as devotas de Hera utilizam um anel desse. – Sr. D me explicou. – Esse é o famoso “anel da castidade”.
Como me mostrei confusa, Quíron continuou: - É a concretização do voto que você fez com Hera. Como ela é a deusa do casamento, não iria querer que suas protegidas saiam por aí tendo casos com qualquer um. Ao usar esse anel, você poderá namorar ou se relacionar com outras pessoas, mas só está permitida a se deitar com alguém depois do matrimônio.
Eu nunca havia realmente considerado o contrário, então aceitei a condição. Peguei o anel do porta-joias e o coloquei em meu anelar esquerdo. Sr. D me fez prometer que não quebraria o pacto – Hera não costuma ser muito boazinha quando se depara com traições.
- Quíron – o diretor chamou seu companheiro. – Mostre o Acampamento para a garota. Phil, vá junto, não quero mais companhia. – E ainda bebendo, se trancou em uma das salas da Casa Grande.
- Venha, criança. – Quíron me guiou pelo caminho, enquanto Phil vinha trotando junto. Me mostrou a arena e o arsenal, os campos de morango, o anfiteatro e o pavilhão, entre outros lugares. Por todo lugar, havia jovens semideuses e sátiros em seus afazeres. Era algo completamente novo e diferente de tudo o que eu já havia visto, mas completamente estimulante.
Por fim, os dois me levaram aos chalés – onde os semideuses moravam, cada um de acordo com seu pai divino. Phil, muito altivo, me dizia a quem pertencia cada chalé. De último, eles me guiaram até o segundo maior chalé presente, o número 2.
- É aqui onde ficará. – Phil parecia orgulhoso. Chalé era pouco para aquele lugar. Grande, todo de mármore branco, com colinas delicadas e decoradas com flores e romãzeiras. Nas paredes, pavões em alto relevo estavam esculpidos. E por último, uma enorme porta púrpura ditava toda a elegância daquela que seria minha nova casa.
- Por muito tempo foi apenas um chalé honorário. – Quíron me explicou. – Por isso, ele não era muito habitável. Nós fizemos algumas mudanças para que você pudesse morar nele.
- Como colocar uma cama decente. – Phil se intrometeu – Fique sabendo que ajudei na decoração.
- Muito obrigada, Phil. – Disse, irônica mas contente com o carinho.
Quíron me avisou sobre alguns últimos detalhes e me deixou a sós com o sátiro. Já era cair da noite, então muitos semideuses se dirigiam aos seus chalés. Phil também me deixou logo depois, falando que voltaria em algum tempo pra me levar ao jantar.
Quando ele saiu, me vi sozinha em frente àquele chalé. Como se minha presença fosse uma completa surpresa, eu percebia que vários olhares dos semideuses me analisavam, talvez se perguntando quem eu era ou o que fazia debaixo do chalé de Hera. Tudo isso me deixava um pouco desconfortável, por isso corri para dentro do chalé.
O interior do chalé era deslumbrante. “Phil tem bom gosto...”, brinquei. Só havia uma cama, bastante grande, e outras mobílias igualmente confortáveis e até luxuosas. No centro do chalé, havia uma estátua em tamanho real de Hera. “Cara, que linda.”, pensei. Para uma mulher que sentia inveja de Afrodite, Hera também era muito dotada de beleza. Uma beleza madura, de mulher formada e imponente, uma beleza de mulher correta. Admirei-a por isso. Como o interior era muito frio – bendito mármore –, fogo tremelitava ao redor de todo o pedestal da estátua. Era um lugar lindo, confortável e seguro, mas para quem havia crescido numa casa agitada com três crianças, também era bastante frio e solitário.
O resto do dia resumiu-se em tomar um banho e trocar de roupa, e logo após ir com Phil até o Pavilhão. Estranhei completamente ter de me sentar sozinha na mesa de Hera, eu sequer me enturmaria daquele jeito. Era muito desconfortável o jeito como os demais semideuses me olhavam, dos pés à cabeça, alguns com curiosidade e outros com puro preconceito. No pavilhão, fui apresentada por Quíron como nova integrante do Acampamento.
Depois do jantar eu já estava cansada, eram tantas coisas novas que minha mente estava esgotada! Haveria uma confraternização no Anfiteatro, mas preferi que Phil me levasse de volta ao chalé, precisava de umas boas horas de sono.
- Amanhã o dia será cheio, pequena Agatha. – Phil me disse ao me dar boa-noite, com gentileza.
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